Resenha literária de “Baixa e Musseques” da obra de António Cardoso











Baixa e Musseques é uma narrativa literária produzida pelo escritor, António Cardoso. Este consagrou-se no universo literário africano com a sua obra” poemas de circunstâncias”.  Baixas e Musseques foi escrita entre 1962 a 1963. A mesma está  composta por  um índice de  catorze  temas  com  cento e setenta e cinco  páginas.  Ao meu ver,  a obra não tem enredo. Não tem conflito por resolver. Não há personagens principais, porém não deixa de ser um livro riquíssimo. Do principio até ao fim  da sua obra,  compreendemos que houve uma necessidade do escritor  de fazer uso da  corrente realismo e  da  negritude. Pois, ao longo  da narrativa, a titulo de exemplo, verificou-se  uma valorização da  cultura angolana, através dos hábitos  e costumes  quando este recorre a interjeições das línguas nacionais para exprimir   as suas emoções (p. 51).  
Uma vez  que o romance foi escrito antes da independência, inferimos que o escritor problematizou os fenómenos da realidade daquele período. Deste modo, António Cardoso aproveita as suas vivências  políticas, sociais e multiculturais da sociedade colonial para  documentar aquele momento histórico.  Na pgina 133 podemos contactar o recurso as figuras de estilos para descrever  alguns elementos da natureza.” De repente, como gotas, a chuva começou a cair, forte. Pingas grossas e espalhadas aqui, ali, até se diluírem em missangas de vidro, muito pequenas, a rebolarem do céu, partindo-se no chão, num espelho líquido”.
Na sua obra apresenta um discurso sobre a violência   contra as mulheres angolanas. Esta posição do escritor leva-nos  a pensar que para além de valorizar a cultura angolana, também imponderava e respeitava a mulher africana. E podemos identicar isso na página 60 onde faz uma crítica aos colonos, quando diz :“Pode sair makas com os nguetas à procura de mulheres…Todas às noites. Nem que respeitam mulheres de um homem só, nem nada. Todas as portas é para bater , às vezes mesmo entrar…” 
Constatamos que António Cardoso    não  era  neutro e  denúncia  alguns comportamentos de predadores sexuais de certos colonizadores . Por outro lado,  é assim   que identificamos na página  57 a denúncia à  descriminação racial contra os angolanos. E, isto porque Cardoso refere que os negros  e  os brancos, por mais que este tenham o mesmo nível de escolaridade  que os colonos recebiam salários inferiores. Esta obra está repleta  de  um grande repertório histórico,  da politica colonial, sobretudo, da cultura angolana.  A narrativa nos permite compreender  o rosto  feio do regime colonial português. Deste modo, inferimos que “Baixa e Musseques” de Cardoso é uma literatura revolucionária. Isto porque, ao longo do enunciado, ele faz questão de partilhar com o leitor que a  sua principal preocupação é a de denunciar as atitudes negativas  do  sistema de governação colonial para com o povo angolano.
            Os aspectos recriados pelo Cardoso levam-nos a concluir que para além deste ter compaixão pelo sofrimento dos angolanos, também queria despertar a consciência quer de Portugal  quer  de Angola  sobre a  necessidade de libertação dos angolanos para tomarem o poder e, por conseguinte, governarem-se a si próprios.

Por Katssekya Samuel

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